sábado, 5 de dezembro de 2009

Perdoar um inimigo é o mais alto estágio civilizatório e eu não consegui chegar a esse estágio ainda

A religião fala sobre o "perdão". É possível perdoar quem nos tenha feito tanto mal?

Perdoar um inimigo é o mais alto estágio civilizatório e eu não consegui chegar a esse estágio ainda. O fato é que, quando conseguimos perdoar a "figura do inimigo", ele morre dentro de nós, não tendo mais potencial nem poder como fonte de energia negativa e destrutiva, que possa abalar nossa psique, nem será fonte de somatização de mágoas e angústias que surgem em nosso organismo, manifestando-se como patologias mentais e doenças físicas.
Pois nesse sentido deixemos a "figura do inimigo" que não significa perdoar e sim deixá-lo ir para fora de nossas vidas para que se reabilite.Não esqueçamos da Lei de Causa e Efeito.
 
Beatriz Abagge
 
Entrevista no No Orkut
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Minha amiga Beatriz Abagge
 
Em 2006 conheci o Orkut, foi uma das formas que encontrei para me proteger do que estava me acontecendo em Itacaré - Bahia, desconhecia até então estas ferramentas da rede, assim como desconhecia a historia desta mulher e de sua família.
Beatriz foi a primeira pessoa a entrar em contato comigo.Nestes anos conheci os horrores pelos quais a família Abagge passou, conheci esta mulher doce, meiga, tranquila,sempre sorrindo  e demonstrando seu amor e imensa fé em Deus.
A cada momento que eu senti o medo, a injustiça , o silêncio, o descaso e a perseguição,a imagem desta jovem mulher sorrindo sempre me incentivou e me deu forças para continuar." Ela continuou apesar de tudo...".
Seus depoimentos e relatos são angustiantes e chocantes, um soco para quem ainda tem estômago. Eu não tenho mais, já foi corroído.
Outras mulheres entraram em contato comigo através do Territorio Mulher, estupradas,espancadas,perseguidas pelos poderes de segurança,da justiça,algumas por seus ex-companheiros,completamente desamparadas, muitas sem recursos financeiros, dores e sofrimentos imensos.
 
 A maioria sem ter A QUEM APELAR e com o pavor da retaliação contra si próprias ou a seus familiares. Sobrevivem estas no silêncio da dor esmagada, algumas na rede incógnitas se manifestam através de poesias ou se juntando a grupos a fim de apoiar outras que atravessam situações similares.
Muitas não conseguem sorrir, nem as jovens. Muitas não conseguem relatar o que lhes aconteceu, outras ainda estão em tratamento físicos seríssimos pelas agressões sofridas por policiais,além de estarem com apoio psicológico.
 
Beatriz diz que se isto aconteceu com ela na cidade no Sul onde sua família sempre viveu poderia acontecer em qualquer lugar, com qualquer uma, independente da classe social. É verdade acontece ... No Nordeste, no Centro-oeste,Norte...
 
Nestes anos procurei divulgar a tragédia das Abagge, em certas ocasiões o silêncio foi a estratégia ensinada pelo tempo.
Assim como no caso das Abagge e tantos outros, a omissão da sociedade sempre foi fator repugnante. Aprende-se quem são os que enrolam as bandeiras em caso de perigo.Aprende-se muito em situação de violência e de opressão. O caminho é extremamente difícil,desgastante,solitário, revoltante, o desconhecido se apresenta como abismos, caímos e a escalada é ardua. Valores, princípios, fé, coragem, despreendimento são as ferramentas utilizadas pelas sobreviventes.
 
Te abraço Beatriz Abagge pelo que representa em minha vida, na de meu filho, na vida de tantas mulheres e nas vítimas da violência dos poderes no Brasil.
 
Ana Maria C. Bruni

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